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20/08 Pesquisa alerta para a associação entre transtorno mental materno e asma infantil*

 

doutora em Saúde Pública e pesquisadora pós-doutoranda do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal da Bahia, pode ser expressa por três fenótipos diferentes: asma
transitória, atópica (ou alérgica) e não atópica. Esses fenótipos diferem na forma de
apresentação da doença, na etiologia e na fisiopatologia. Embora a asma atópica venha sendo
mais estudada entre a população pediátrica, Letícia afirma que estudos em grandes centros
urbanos da América Latina evidenciam maior prevalência da asma não atópica.

A asma é uma doença heterogênea que, segundo a psicóloga Letícia Marques dos Santos, doutora em Saúde Pública e pesquisadora pós-doutoranda do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia(ISC/UFBA), pode ser expressa por três fenótipos diferentes: asmatransitória, atópica (ou alérgica) e não atópica. Esses fenótipos diferem na forma de apresentação da doença, na etiologia e na fisiopatologia. Embora a asma atópica venha sendo mais estudada entre a população pediátrica, Letícia afirma que estudos em grandes centros urbanos da América Latina evidenciam maior prevalência da asma não atópica.

Em entrevista ao PROMEF , a especialista explicou que a asma atópica vem sendo associada a diferentes fatores de risco, desde aspectos genéticos, exposição intrauterina ao fumo e ao estresse, fatores ambientais, como exposição a alérgenos e poluentes, e aspectos sociofamiliares, como tamanho da família, experiência de creche e pais fumantes.

Sobre a asma não atópica, Letícia afirma que são poucos os estudos que investigaram os fatores de risco; entretanto, é possível destacar alguns fatores, como, por exemplo, ser do sexo masculino, ter alto índice de massa corpórea e história precoce de otites e infecções respiratórias. “Além disso, baixa escolaridade materna e hábito de fumar, amamentação por menos de três meses, presença de umidade, mofo, animais domésticos e poeira no domicílio também aumentariam as chances de ocorrência de asma não atópica”, afirma.

Buscando obter mais informações sobre a doença, Letícia e colegas desenvolveram um estudo para investigar como a saúde mental materna interfere na prevalência dos sintomas entre crianças com asma atópica e não atópica, levando em consideração o suporte social familiar.

Ela conta que o estudo foi produzido com os dados de um programa de investigação, treinamento e desenvolvimento metodológico em cooperação internacional denominado Social Change Asthma and Allergy in Latin America (SCAALA), que envolve pesquisadores do Brasil, do Equador e da Inglaterra. A equipe é multidisciplinar e conta com especialistas das áreas de psicologia, imunologia, estatística, nutrição e epidemiologia.

“Nosso estudo baseou-se na teoria do estresse que tem identificado, de maneira consistente, o impacto da vivência de eventos estressantes sobre o risco de adoecimento para diferentes agravos. Nessa perspectiva, estudos epidemiológicos têm identificado o impacto dos sintomas maternos de depressão, ansiedade e vivência de estresse sobre a prevalência de sintomas de asma entre indivíduos atópicos e não atópicos. Dessa forma, a hipótese inicial que guiou o nosso trabalho foi que o impacto do transtorno mental comum (TMC) materno seria igualmente forte para ambos os tipos de asma”, explica.

De fato, os resultados apresentados em um artigo que ainda será publicado no Journal of Epidemiology & Community Health mostram que a presença de TMC materno está positivamente associada com chiado entre as crianças, independentemente se a asma é atópica ou não atópica.

Letícia e equipe chegaram a essa conclusão após analisar dados de 1.013 crianças que participavam do projeto SCAALA. Para a coleta de dados, os pesquisadores utilizaram diferentes questionários e mensuraram os níveis de IgE alérgeno-específico para identificar atopia.

Segundo a psicóloga, estudos atuais na área de psiconeuroimunologia forneceram a base teórica para a explicação dos resultados encontrados na pesquisa. “Há evidências de que alterações emocionais e comportamentais maternas promoveriam um ambiente de estresse para a criança, desencadeando respostas neuroendócrinas e imunológicas envolvidas no processo inflamatório da asma. Contudo, os mecanismos psicológico e imunológico envolvidos na resposta de asma entre indivíduos atópicos e não atópicos expostos ao estresse ainda permanecem especulativos”, explica.

A qualidade do cuidado e do contexto de interação construído pelos pais com sintomas de sofrimento psíquico, independentemente do mecanismo psiconeuroimunológico subjacente ao adoecimento, também pode explicar as associações observadas na pesquisa, diz Letícia. “Geralmente, pessoas com transtornos mentais apresentam baixa autoestima e dificuldades no relacionamento interpessoal, tornando mais provável a ocorrência de hostilidade, comportamentos agressivos e relacionamentos familiares disfuncionais, promovendo um contexto familiar conflituoso e estressante. Nesse sentido, conviver com cuidadores portadores de sintomas mentais pode afetar as interações estabelecidas no ambiente doméstico, transformando-as em uma fonte de estresse para a criança e tornando-a vulnerável ao adoecimento. Além disso, quando os pais são portadores de transtornos mentais, também apresentam menor disponibilidade para a criança, práticas de cuidado empobrecidas, dificuldades de adesão a tratamentos e cumprimento das práticas de prevenção e imunização, com clara repercussão sobre a saúde infantil”, afirma.

Se, por um lado, a associação entre transtorno mental materno e a presença de sintomas de asma em crianças foi comprovada, o estudo mostrou que suporte social e afetivo materno atenua essa associação com relação à asma não atópica. “Nesta perspectiva, a existência de suporte social proveria aos pais recursos práticos ou emocionais para lidar com a ocorrência de eventos estressantes, sendo útil no manejo e na adaptação dos pais às consequências destes eventos. Sendo assim, supõe-se que, mesmo mentalmente adoecidos, os pais teriam recursos disponíveis para oferecer cuidados preventivos e curativos adequados, com resultados positivos para a saúde infantil”, afirma Letícia.

Dessa forma, a psicóloga defende a implementação de estratégias relativamente simples e de baixo custo, voltadas para a atenção integral à família. “Os profissionais de saúde poderiam organizar grupos de apoio nas unidades de saúde, orientando sobre manejo e prevenção da asma infantil. Além disso, seriam muito importantes a identificação e o tratamento dos casos de TMC, depressão ou ansiedade nos pais, pois isso pode resultar em promoção de saúde e bem-estar infantis”, destaca.

 

 

*Fonte: Sistema de Educação Médica Continuada a Distância (SEMCAD): www.semcad.com.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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